domingo, 28 de novembro de 2010

"Pocpoc!"

Estar numa cidade nova e tão diferente daquela de onde vimos implica responsabilidades que não tínhamos dantes. A maior parte dos universitários não tem a oportunidade de estudar na cidade onde cresceu e, portanto, vê-se obrigada a alugar um quarto ou apartamento onde vive durante a semana. Ao viverem com outras pessoas, torna-se mais fácil dividir tarefas, mas há algumas que temos que ser nós a fazê-las, como arrumar o quarto e… ir às compras!
Ontem foi um desses dias. Como não tinha aula de matemática, aproveitei para ir ao supermercado e consegui convencer umas amigas a vir comigo. Uma delas, como ainda nem sabia onde era o supermercado, ficou muito espantada quando se apercebeu de que tinha passado naquela rua várias vezes, mas sem ver o pequeno edifício, escondido por umas escadas e uma árvore enorme. Como não tinham nada para comprar, enquanto eu corria os corredores à procura do que precisava, elas iam passeando e vendo as coisas. A certa altura, uma delas pergunta-me onde estão as pipocas. Ora bem, eu que já tinha ido várias vezes ao supermercado mas nunca tinha reparado, pus-me mais uma vez a correr os corredores à procura com elas, até que finalmente encontrámos. Mas agora havia outro problema: doces ou salgadas? “Eu queria simples, sem nada…”, dizia ela, mas só havia aquelas variedades e acabou por levar das doces. Então o problema era como devia prepará-las. “Metes no microondas uns minutos e, quando elas começarem a estalar menos, tiras. Mas não te assustes quando elas começarem a fazer ‘pocpocpoc’ muito depressa!”.
Quando cheguei a casa, fui arrumar as coisas na minha prateleira e, quando olhei para a de uma colega minha, lá estavam elas! Um pacote de pipocas doces igual ao que a minha amiga tinha comprado! Nunca o tinha visto ali e parecia uma coincidência engraçada. Qual não foi o meu espanto quando, enquanto preparava o jantar, a minha colega de casa diz que está com vontade de comer pipocas! Pipocas, pipocas, pipocas! Parecia que estava a ser perseguida por elas e que toda a gente se lembrava de falar nelas. Já não pensava em pipocas há imenso tempo, mas em menos de vinte e quatro horas tinham invadido o meu dia e já não conseguia pensar em mais nada senão nelas!
Portanto, se algum dia se sentir perseguido por pipocas ou qualquer outro assunto de que falou, não se assuste pois não é o único. Agora que penso nelas, só consigo ver o saco a inchar no microondas e ouvi-las a fazer ‘pocpocpoc’!

E quando não sabemos?

Todos nós já nos deparámos com situações desconhecidas, sejam doenças, projectos novos de trabalho em que nos envolvemos ou mesmo um novo membro na família. Mas a diferença está na forma como as encaramos; o facto de ser desconhecido não significa que tenha de ser negativo.
Há muitos anos, na área da saúde, tudo o que era “diferente” era considerado uma abominação e os doentes eram simplesmente fechados num quarto ou abandonados à sua sorte. Pessoas com Síndrome de Down (trissomia 21), por exemplo, eram algumas das vítimas desta sociedade cruel e insensível. Outro bom exemplo são as crianças órfãs, que eram levadas para fazer trabalhos forçados em troca de um tecto e umas migalhas de pão, que nem um cão alimentavam.
Felizmente, hoje em dia muitas dessas coisas mudaram: já se sabe que a Síndrome de Down é uma doença genética, foi redigida e divulgada a Declaração dos Direitos da Criança e foram constituídas instituições de apoio a todas estas pessoas com o intuito de as incluir nesta sociedade que, apesar de mais informada, continua a discriminar muitos destes casos.
No entanto, e quando não sabemos? Devemos procurar entender, enfrentando a situação e não pondo o caso de lado; afinal, todos queremos o mesmo: ser felizes ao lado de quem amamos e de quem nos ama também!