segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Senhor do Metro

Conheço um senhor que encontro todas as manhãs numa saída de metro em Lisboa. Até à hora de almoço sei sempre que o posso encontrar ali. Entre os dois lances de escadas que dão para o exterior. Faça chuva ou faça sol, frio ou calor, ali está ele: o senhor do metro.
Nunca falei com ele… talvez não possa dizer que o conheço. Simplesmente, sei quem é.
O seu semblante não deixa transparecer o que lhe vai na alma. É uma pessoa difícil de ler. Passa o tempo absorto nos seus pensamentos, indiferente à variedade de pessoas que por ele passa a cada instante. Ou assim parece.
É uma pessoa bem-parecida, cuidada, de meia-idade. E, no entanto, passa as suas manhãs entre os dois lances de escadas daquela saída de metro. Intriga-me.
Sempre que passo por ele tenho vontade de lhe dizer olá, de lhe sorrir. Não sei porque mas o senhor do metro parece precisar de simpatia, de sorrisos, de alegria. Mesmo que apenas no fugaz instante de um cumprimento.
Nunca falei com o senhor do metro e, no entanto, simpatizo com ele, empatizo com a sua personagem.
Mas por outro lado, tenho pena dele… As suas manhãs são passadas entre os lances de escadas que dão para o exterior daquela saída de metro, a vender o que quer que seja que lhe parece ser útil naquele dia. Desde bolsas de telemóvel, pilhas, sabrinas, lenços de papel ou nos dias mais chuvosos, guarda-chuvas. E assim sustenta a sua manhã.
Um dia vi uma senhora dar-lhe cinco euros de forma dissimulada. Não o olhou, apenas lhos depositou na mão e disse “é para ti”. O senhor seguiu no seu encalço dizendo “leve algo” mas a senhora já ia no cimo do lance de escadas que dá para o exterior daquela saída de metro.
Sempre que passo por ele, assola-me um misto de sentimentos. Por um lado fico feliz por ver alguém tentar ganhar a vida de forma honesta. Por outro... sinto pena do senhor do metro. Porque será que passa assim as suas manhãs? Porque será que nunca consigo ler felicidade ou, no mínimo, descontracção na sua expressão. Tem sempre um ar absorto, pensativo, preocupado, o senhor do metro.

Apesar de tudo… gosto do senhor do metro. Um dia vou sorrir-lhe e dizer-lhe olá.

Joana Paulo

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