segunda-feira, 24 de maio de 2010

Torre de Marfim

Olhamos para os jardins vazios, vemos os baloiços nos parques infantis estáticos e os cafés “às moscas”. As pessoas não convivem como outrora conviviam. Deixaram de frequentar espaços públicos e passaram a refugiar-se nas suas casas fortes, nos seus ninhos impenetráveis, nas suas quatro paredes, cujas muralhas aparecem-nos como intransponíveis.
Por falta de tempo, devido ao aumento de criminalidade ou por qualquer outro motivo, tendemos a fechar-nos em casa e a trazer para dentro dela tudo o que encontrávamos lá fora. Compramos máquinas de café altamente especializadas para não termos de nos deslocar ao estabelecimento da esquina. Não podemos perder tempo! Construímos baloiços nos nossos jardins porque o parque infantil fica fora de mão na rota para o escritório. Há até casos de pessoas que constroem nas suas habitações salões de cabeleireiro, cinemas, saunas, spas, etc etc…
É normal que gostemos de ter junto a nós aquilo de que gostamos, mas deixa de ser saudável quando nos fechamos na nossa torre, mesmo que essa torre esteja provida das melhores condições, não deixa de ser uma prisão de marfim…
Por mais confortável que seja o nosso cinema em casa, nunca terá o cheiro das pipocas característico dum cinema normal. Por mais bom que seja o café que a nossa máquina tira, nunca terá o mesmo sabor que a “bica” no estabelecimento da D. Joaquina acompanhado por dois dedos de conversa com quem passa. Por mais poder que ter todos estes luxos nos traga, mais cedo ou mais tarde vamos perder os laços que nos unem as pessoas com quem costumávamos conviver nos espaços públicos e de que nos serve todas estas regalias se não temos com quem as partilhar?
Nessa altura devemos convidar a solidão para assistir a um filme…

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