domingo, 18 de abril de 2010

O recolector de cogumelos

Conhecem a história de Grigory Perelman? Fixem este nome porque vamos conhecê-lo mais à frente. Por agora, deixem-me contar-vos algo que talvez não saibam. Nas escolas, quando perguntamos aos adolescentes de 12 e 13 anos sobre as profissões que desejam seguir no futuro,surgem respostas simultaneamente divertidas, dramáticas e alarmantes.
Antigamente, as profissões desejadas oscilavam entre a medicina e a engenharia, com dois ou três astronautas e um bombeiro lá pelo meio. Hoje, a profissão do momento é outra. "Ser famoso". Não interessa em quê. Interessa é sê-lo.
Todos os dias, quando espreito a tv, o espectáculo é repetitivo e deprimente: incontáveis nulidades, sem nada que as recomende, tentam em desespero chegar "lá". A fama, que já durou 15 minutos, hoje dura 15 segundos; e os famosos, que em teoria seriam famosos por uma qualidade distintiva qualquer, são famosos por serem famosos, um círculo perfeito e perfeitamente imbecil.
É vamos lá então à história de Grigory Perelman. Na passada semana, enquanto Portugal assistia a mais uma vitória do Benfica sobre o Sporting, Grigory Perelman recusava um prêmio de US$ 1 milhão por ter resolvido a conjectura de Poincaré.
Grigory Perelman, 44 anos, é um matemático russo que, após breve carreira acadêmica, abandonou a universidade para enfrentar a referida conjectura, um problema matemático que há mais de um século intrigava cientistas do planeta inteiro.
Em 2002 e 2003, publicou as suas propostas de resolução (na internet). Nos anos seguintes, matemáticos diversos procuraram confirmar a resolução proposta por Perelman. E confirmaram. Devido ao feito, a Fields Medal foi-lhe atribuída, em 2006, uma espécie de prémio Nobel da Matemática. Perelman fez o que agora repetiu: recusou-o.
Foi o princípio da sua anti-fama que se converteu numa forma perversa de celebridade. Os jornalistas instalaram-se em frente ao apartamento onde ele vive com a mãe. Os vizinhos fornecem alguns detalhes sobre a estranha criatura: os seus hábitos higiénicos (não corta unhas, cabelo ou barba), comportamentais (caminha sem levantar o olhar) e até alimentares (uma predilecção desmesurada por laranjas). Uns dizem que o apartamento está infestado de baratas. Outros garantem que Perelman gosta de jogar pingue-pongue contra a parede.
E o próprio Perelman contribui para o mito, ao responder às solicitações telefónicas dos jornalistas com frases do tipo: "O senhor está a perturbar-me. Estou a apanhar cogumelos."
A frase é boa. Não admira, por isso, que a revista "Spectator" tenha dedicado um editorial notável ao caso, garantindo que Hollywood já está a preparar um "biopic" sobre o génio. Se a ideia era viver em paz, um mundo viciado na guerra da fama não permite semelhante luxo.
O que implica saber: na história de Grigory Perelman, a quem pertence a maior dose de loucura? A ele? Ou a nós?
Ora, não é preciso ser um génio para responder a essa...

1 comentário:

Anónimo disse...

"Preso por ter cão, preso por nao ter"

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